BOE: AUDITORIA DE OURO ATRASADA HÁ 5 MESES E O FANTASMA DO "DEFAULT" DE JANEIRO

[Igor Pereira]

A integridade do mercado de ouro de Londres enfrenta seu teste mais crítico do ano. O relatório anual auditado da Conta de Equalização Cambial (EEA) do Reino Unido, referente ao ano fiscal encerrado em 31 de março de 2025, ainda não foi publicado.

Por Igor Pereira, Analista de Mercado Financeiro & Membro Junior WallStreet NYSE

 

Já ultrapassamos a marca de 5 meses de atraso, um silêncio administrativo que levanta sérias suspeitas sobre a real solvência das reservas custodiadas pelo Banco da Inglaterra (BoE).

Robert Lambourne, analista que monitora meticulosamente os balanços do BoE, aponta que esse atraso fortalece a tese de que o banco central pode estar operando com reservas fracionárias perigosamente baixas, possivelmente cúmplice em mecanismos de supressão de preço.

 

Para entender a gravidade da auditoria atrasada, precisamos revisitar o evento de "cisne negro" que ocorreu no final de janeiro deste ano. Na ocasião, a LBMA (London Bullion Market Association) entrou em um estado de "default técnico" (falha de entrega em T+60).

O mercado físico travou. A narrativa oficial foi risível: culparam "gargalos logísticos", falta de caminhões e até o peso das barras de ouro, gerando piadas no setor sobre a lentidão da entrega. Contudo, a análise institucional sugere uma realidade muito mais sombria: a LBMA não conseguia tomar ouro emprestado do BoE rápido o suficiente para cobrir as demandas de entrega física.

As perguntas que faço agora são as mesmas que os auditores provavelmente estão fazendo a portas fechadas:

1. O Banco da Inglaterra emprestou metal pertencente a outras nações para cobrir o rombo da LBMA em janeiro?

2. Esse ouro foi devolvido?

3. A auditoria está atrasada porque os números físicos não batem com os registros contábeis?

 

A Conexão com o ETF GLD (SPDR Gold Shares)

A situação se agrava ao analisarmos o GLD , o maior ETF de ouro do mundo. Relatórios de Ronan Manly (Bullion Star) indicam falhas persistentes na divulgação de quanto do ouro do fundo (aprox. 1.010 toneladas) está subcustodiado no BoE.

Com o JP Morgan e o HSBC — dois dos maiores operadores de derivativos de ouro — agora atuando como custodiantes conjuntos, a opacidade é total. Se o ouro do GLD foi "alugado" para cobrir déficits de entrega em janeiro, os detentores de cotas do ETF possuem apenas promessas de papel, não metal físico.

 

A confirmação de que o atraso na auditoria se deve à falta de ouro físico seria o catalisador final para o desacoplamento entre o "preço de papel" e o "preço físico".

• Curto Prazo: A incerteza gera volatilidade. Podemos ver movimentos erráticos enquanto insiders tentam se posicionar antes que a notícia se torne mainstream.

• Médio/Longo Prazo: Se o mercado perder a confiança na capacidade de entrega de Londres, veremos uma corrida bancária rumo ao metal físico. O prêmio (ágio) sobre o preço spot explodirá, e o XAU/USD tenderá a buscar novas máximas históricas, ignorando a manipulação dos mercados futuros.

 

Diante deste cenário de risco sistêmico na custódia de Londres:

1. Evite ETFs de Papel: Instrumentos como GLD e SLV carregam risco de contraparte excessivo neste momento. Eles são os primeiros a sofrer em caso de default físico ou force majeure.

2. Foco no Físico e Mineradoras: A exposição real ao ouro (físico alocado fora do sistema bancário) ou a mineradoras de alta qualidade (que possuem o ativo no solo) é a única proteção contra a insolvência da LBMA.

3. Posicionamento em XAU/USD: Mantenha posições compradas (long), mas utilize stops técnicos largos para evitar a volatilidade de curto prazo gerada pela manipulação de margens. O fundamento macroeconômico de escassez física permanece inalterado e extremamente altista.

O atraso de 5 meses não é burocracia. É um sinal de fumaça. E onde há fumaça no mercado de ouro, geralmente há um cofre vazio.