Igor Pereira Postado ontem às 00:39 Denunciar Share Postado ontem às 00:39 EUA propõem auditoria histórica em Fort Knox: debate sobre transparência e status do ouro como ativo monetário ganha força Por Igor Pereira – Analista de Mercado Financeiro | Membro Wall Street NYSE Em meio ao crescente interesse global pelo ouro como ativo estratégico, os Estados Unidos reacendem o debate sobre a real situação de suas reservas oficiais do metal. A recente proposta legislativa Gold Reserve Transparency Act of 2025, apresentada pelo deputado Thomas Massie e coassinada por congressistas republicanos, visa autorizar uma auditoria completa e independente das reservas de ouro dos EUA — incluindo a emblemática instalação de Fort Knox, que armazena cerca de 147 milhões das 261 milhões de onças-troy pertencentes ao Tesouro. O projeto prevê uma investigação detalhada conduzida pelo Government Accountability Office (GAO), com auxílio de auditores externos, abrangendo não apenas os volumes em estoque, mas também todas as transações realizadas com o ouro nos últimos 50 anos, como vendas, empréstimos, leasing e swaps. Se aprovado, o processo duraria até um ano e se repetiria quinquenalmente. Trump e Elon Musk reacendem debate sobre Fort Knox O presidente Donald Trump e o empresário Elon Musk, em declarações públicas no início deste ano, sugeriram a necessidade de verificação física do ouro mantido nos cofres do governo. “Vamos entrar em Fort Knox para garantir que o ouro está lá”, afirmou Trump a bordo do Air Force One em fevereiro. Desde então, apesar do forte apelo público, a Casa Branca ainda não oficializou qualquer investigação por parte do Executivo. Ouro como ativo Tier 1, mas não como reserva líquida Paralelamente à proposta legislativa, cresce o questionamento sobre a categorização do ouro nos padrões internacionais. Embora o metal amarelo tenha sido classificado como ativo Tier 1 sob as regras de Basileia III, ele ainda não é reconhecido como reserva de liquidez dentro do Liquidity Coverage Ratio (LCR) da União Europeia — o que levanta contradições estruturais. Durante os últimos episódios de estresse de mercado, o ouro demonstrou maior liquidez, menor volatilidade e spreads mais estreitos do que os Treasuries de 10 anos dos EUA — tradicionalmente vistos como os ativos mais líquidos do mundo. Esse descompasso prejudica a confiança no papel do ouro como instrumento monetário global e levanta questionamentos sobre os fundamentos regulatórios da Basel III. A exclusão do ouro do LCR europeu limita sua utilidade para bancos como ativo líquido de alta qualidade (HQLA), apesar de seu histórico centenário como reserva de valor soberana. Última auditoria completa: 1974 O último esforço de transparência pública em Fort Knox ocorreu há mais de 50 anos, em 1974, quando o então secretário do Tesouro William Simon conduziu uma visita ao local com membros do Congresso e da imprensa. No entanto, organizações independentes apontam que a auditoria da época não verificou pureza, serialização nem realizou uma contagem integral dos lingotes — prática que hoje não seria aceita sequer em depósitos privados. Stefan Gleason, CEO da Money Metals Depository, afirma que "o Departamento do Tesouro perdeu registros e falhou em justificar aberturas de compartimentos selados sem nova auditoria". Segundo ele, a proposta de Massie representa uma oportunidade histórica de restaurar a confiança pública. Oficiais do Tesouro dizem haver auditorias anuais Em resposta às críticas, o atual secretário do Tesouro, Scott Bessent, defendeu que o governo já realiza auditorias anuais. “Há um relatório em 30 de setembro de 2024 que mostra que todo o ouro está lá”, declarou à Bloomberg. O Office of Inspector General publicou um parecer afirmando que os saldos refletem de forma adequada os padrões contábeis norte-americanos. No entanto, analistas do setor contestam a profundidade dessas auditorias. “Verificar lacres de compartimentos não equivale a auditar seu conteúdo”, disse Jp Cortez, da Sound Money Defense League. “É preciso uma abordagem física, transparente e independente”. Iniciativas estaduais reforçam status monetário do ouro Enquanto o debate federal se intensifica, governos estaduais como o da Flórida avançam na revalorização do ouro como instrumento monetário. O governador Ron DeSantis sancionou a Bill 999, que reconhece moedas de ouro e prata como moeda legal no estado. A lei também isenta esses ativos de impostos sobre vendas e exige identificação clara de peso, pureza e origem. Impacto no mercado financeiro: o que esperar A crescente pressão por uma auditoria integral dos estoques nacionais de ouro — especialmente em Fort Knox — pode: Aumentar a confiança internacional no ouro como ativo soberano, se a auditoria confirmar integridade e volume das reservas; Desencadear desconfiança sistêmica e realocação de reservas por parte de países e fundos soberanos caso sejam identificadas falhas, perdas ou inconsistências nos registros; Aumentar a demanda por ouro físico, em especial se o debate reforçar seu papel como proteção contra falhas institucionais e inflação; Impulsionar iniciativas pró-ouro em estados norte-americanos e fora dos EUA, com outros países podendo seguir o exemplo de transparência e reavaliação monetária. Conclusão Em um momento em que o ouro atinge máximas históricas — tendo superado US$ 3.500 a onça em maio — o movimento político em direção à transparência das reservas americanas representa um divisor de águas no debate sobre sua real função monetária. Com a volatilidade geopolítica e monetária em ascensão, investidores institucionais e de varejo devem observar com atenção os desdobramentos dessa proposta legislativa, que pode redefinir a credibilidade das reservas de ouro dos EUA e reforçar seu papel como alternativa aos títulos soberanos. Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
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