Fed mantém estratégia de redução do balanço, mas alerta para riscos de instabilidade financeira
Por Igor Pereira – Analista de Mercado Financeiro
Nova York, 24 de abril – A presidente do Federal Reserve de Cleveland, Beth Hammack, reforçou nesta quinta-feira que as condições financeiras ainda permitem a continuidade da redução do balanço do Fed (quantitative tightening – QT), mas alertou que este não é o momento para mudanças agressivas na política monetária.
“Este não é um bom momento para ser preemptivo”, afirmou Hammack, destacando que é preciso paciência e leitura dos dados antes de qualquer ação sobre as taxas de juros.
Durante discurso no encontro do Money Marketeers da Universidade de Nova York, Hammack detalhou sua visão sobre a política de balanço da autoridade monetária e o papel do QT na estabilidade financeira.
QT continua, mas com ritmo mais lento
O Federal Reserve vem reduzindo seu balanço desde 2022, ao deixar vencer títulos do Tesouro e hipotecas sem reinvestimento. Essa estratégia reduziu o balanço de US$ 9 trilhões para US$ 6,8 trilhões. No entanto, em março, o Fed decidiu desacelerar esse ritmo, como forma de preservar liquidez e evitar disfunções nos mercados.
“Acredito que, ao desacelerar o ritmo, conseguiremos estender o processo por mais tempo”, disse Hammack. “Isso não sinaliza um balanço permanentemente maior.”
Ela destacou que ainda há reservas mais que suficientes no sistema, o que dispensa intervenções mais ativas. Contudo, alertou que manter reservas excessivas pode incentivar a tomada de riscos desnecessários nos mercados financeiros.
Fed pode usar ferramentas emergenciais, se necessário
Apesar de defender o QT, Hammack não descartou a possibilidade de intervenções temporárias para gerenciar episódios de volatilidade acentuada, por meio das operações de mercado aberto.
“Pode haver cenários em que o Fed precisará adicionar liquidez temporária”, afirmou. “Nada impede o Fed de usar suas ferramentas padrão para manter a taxa-alvo dos Fed Funds.”
Contexto geopolítico e tensão com tarifas impulsionam volatilidade
As declarações de Hammack ocorrem em meio a altos níveis de volatilidade nos mercados financeiros, amplificados pelas incertezas geopolíticas e os efeitos do regime tarifário do ex-presidente Donald Trump. O temor é que o aumento da incerteza global obrigue o Fed a adotar posturas mais intervencionistas, como compras emergenciais de ativos — cenário que, por ora, Hammack descarta:
“Os mercados têm se mantido ordenados, mesmo com a volatilidade”, afirmou. “O Fed só deve intervir se houver um colapso claro no funcionamento dos mercados.”
Impacto no Mercado Financeiro: O que esperar
Mercado de Treasuries: A sinalização de que o QT continuará de forma lenta dá alívio à curva de rendimentos. No entanto, a manutenção do processo de aperto segue como fator de pressão sobre a parte longa da curva.
Renda variável: A postura mais cautelosa favorece ativos de risco no curto prazo, mas o risco de excesso de otimismo pode aumentar a volatilidade futura.
Mercado cambial e ouro (XAU/USD): Um Fed menos intervencionista pode reforçar a tese de desvalorização estrutural do dólar e fortalecer o ouro como proteção contra instabilidade e excesso de dívida pública.
Liquidez e crédito: A expectativa é de que o aperto continue, mas de forma controlada, o que reduz a probabilidade de choques de liquidez abruptos nos próximos trimestres.
Análise Final – Igor Pereira
O discurso de Hammack mostra que o Fed busca equilibrar redução de estímulos com a manutenção da estabilidade financeira. A instituição segue comprometida com o QT, mas sem comprometer a funcionalidade dos mercados — o que reforça a mensagem de “QT por mais tempo, porém mais lento”. Para os investidores, o momento exige atenção aos sinais de liquidez e postura estratégica quanto à alocação em ativos reais e proteção cambial.